Viagens na Web

Decidi aprofundar as razões porque gosto do Barroco e da arte barroca.

Escrever sobre um assunto leva muitas vezes a uma mudança de perspectiva, porque ideias simplistas são postas em causa, conhecimento acriticamente recebido exige prova e, invariavelmente, fico espantado com o pouco que sabia.

Toca de pesquisar o barroco então, como preparação de uma mensagem (ou série delas) sobre o assunto. Eu já sabia que a primeira ideia a cair seria a noção, promovida pelos historiadores de arte alemães do séc. XIX, neoclássicos, que o vêem como uma degenerescência da pureza clássica1 da Renascença.

É sina de cada período de arte ser crismado pelos seus detractores. Já os da Renascença, admiradores da Antiguidade Clássica, desprezavam a arte da Idade Média, arte de bárbaros, de Godos. Gótica, portanto. Pela qual mais tarde os Românticos, que desprezavam o racionalismo clássico, se apaixonaram. Onde começa o Barroco e onde termina? Para conhecer o Barroco tem que se partir da Renascença, que aquele continuou e contra o qual reagiu. E ainda há aquele outro estranho movimento no meio, o Maneirismo, que segundo alguns autores durou 50 anos em Itália e 200 em Portugal.

La Fornarina, Rafael
Rafael, La Fornarina (A Padeira),
Margherita Luti,
amante do artista (Wikipedia).

A pesquisa começos pela Renascença, portanto. Dos três grandes desse período, Leonardo, Miguelângelo e Rafael, eu conhecia menos Rafael. Comecei por aí. A Wikipédia tem boas galerias que ajudam a apreciar esta pintura fabulosa, com páginas para muitos dos quadros e frescos, três graus de zoom e muita informação auxiliar, ajudada pela Web Gallery of Art. Mas o Barroco não é só arte. Revisitei Galileu (para a Renascença), Espinoza e Liebnitz.

Pelo meio experimentei a Last.fm e voltei a ouvir chillout, downtempo, trip-hop, em jejum desde o fecho da XFM/Voxx, há uns anos. Desde essa época tenho vivido confinado à música clássica. Por 2,5 € por mês teria direito à minha rádio na Web, com as minhas preferêncas, podendo recomendá-la aos meus amigos e mais algumas coisas no domínio do social networking. Mas eu limitei-me a escrever o nome de um artista e a Last.fm vai tocando artistas que considera parecidos com aquele, suponho que obtidos pela análise das contiguidades na sua base de dados de utilizadores e artistas. O que resulta numa audição muito agradável para mim.

Uma notícia no Google levou-me a uma reportagem no Washington Post que ganhou o Prémio Pulitzer, sobre os mercenários no Iraque: Private Armies, de Steve Fainunu. A arrogância brutal de empresas como Blackwater é extraordinária. Quando querem passar a escoltar algum Gauleiter americano numa rotunda apinhada de trânsito, correm toda a gente a tiro. Se alguém se aproxima, matam-no. E estão acima da lei, tanto no Iraque como nos EUA.

Um detalhe sobre veículos usados pelos mercenários levou-me a um site sobre tecnologias militares Defensetech.org, onde descobri Future Combat Systems uma iniciativa do Exército dos EUA (onde estão a gastar mais de mil milhões de dólares) para criar a guerra de infantaria do século XXI, com blindados de tracção híbrida, drones robots e sensores/câmaras em rede espalhados pelo campo de batalha.

Uma observação da minha prima sobre a possível obsolescência do Purgatório levou-me a ler uma encíclica de Bento XVI, Spe Salvi, onde soube que os pecadores católicos já não terão que passar tempo no churrasco à espera de eventualmente serem salvos, mas sofrerão uma dor curativa, talvez como a de Santa Teresa de Ávila, cujo sofrimento (ou prazer), retratado por Bernini, é uma das obras-primas do Barroco.

O Êxtase de Sta. Teresa de Ávila, Bernini, 1652, Igreja de Sta. Maria da Vitória, Roma

O Êxtase de Sta. Teresa de Ávila, Bernini, 1652, Igreja de Sta. Maria da Vitória, Roma


1 — A designação de clássico não é também neutra. Clássico é aquilo que se deve ensinar na classe. O fundamento perfeito do conhecimento. Só depois de se conhecer e compreender esse núcleo se deveria estudar as outras coisas menos perfeitas. [Voltar ao texto]

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